A pessoa pariu e agora carrega consigo marcas de uma nova história.
Parte desta história é composta por uma abertura efetiva para o contato com o mundo. O outro, os afetos, sentimentos e emoções passam a ter um vocabulário ampliado que vai se encaixar de modo singular na narrativa de cada pessoa, algo inerente ao humano e portanto às experiências perinatais.
O parto e o nascimento são um marco de uma nova história que vai ser costurada no tempo.
Depois do parto a pessoa passa a ter contato com novos fluxos do corpo: sensórios, motores e de fluidos também. Uma nova espécie de sangramento momentâneo, novos líquidos, leite e tantas vezes lágrimas, que se chegam para dar contorno ao intangível do mundo.
E cortando essa explosão de vitalidades, temos diante de nós (agora e ainda) uma sociedade onde há uma cobrança dos cuidados com os bebês sob as mães ao mesmo tempo que os olhares para as mães costumam diminuir.
Essa equação não fecha.
Sabemos que os bebês ao nascerem são atravessados por múltiplas afecções que não constroem em si uma lógica como a dos adultos, por exemplo.
Acompanhar a relação deste novo bebê com o mundo e seu desenvolvimento motor e cognitivo, requer um esforço fisiológico, metabólico, motor e sensorial também do corpo materno.
Aqui gostaríamos de citar 3 palavras preciosas para : Reintegração, reorganização, vinculação.
É preciso tempo de qualidade para a relação do binômio mãe e bebê e das parentalidades responsáveis tal qual é necessário tempo de qualidade consigo para que possamos redescobrir o corpo, diante dos seus processos, por uma atenção consciente das nossas mobilizações diárias.
A melhora da percepção corporal também impacta na nossa autoimagem que, longe de ser apenas estética, é simbólica e psíquica.
E aqui trago uma provocação: de quem é a responsabilidade do cuidado e quem cuida de quem cuida?
Uma pessoa em seu puerpério precisa de estímulo e suporte para acessar modos de cuidado e uma assistência que testemunha e ampara o processo do corpo-mente. Neste sentido as redes de apoio, as rodas de pós-parto, as terapias e práticas somáticas, o toque terapêutico em suas nuances e o cuidado continuado de uma equipe interdisciplinar com doulas e obstetrizes faz toda diferença.
Cuidemos das mães!
Texto de: Isadora Malta